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Foto do escritorJulianna Carmo

Por que eu jogo RPG?

Atualizado: 9 de nov. de 2020

Se a criança que você foi soubesse que você tem a chance de viver todas as fantasias e aventuras que sonhava, como acha que ela reagiria?



Nunca fui uma pessoa muito de jogos de estratégia ou de guerra. Nunca tive videogame e nunca tinha ouvido falar em RPG. Definitivamente, jogos dessas categorias não faziam parte da minha vida. Me contentava com baralhos, um Stop com a família de vez em quando e outros jogos simples que apareciam em casa e que, na maioria das vezes, não exigiam imaginar nada muito além do nosso mundo normal. Confesso que também não me ensinaram o valor da leitura logo cedo. Não tive uma infância cheia de livros ou mergulhada em histórias fabulosas encontradas em páginas que hoje me encantam tanto. Mas a criança que um dia eu fui sonhava em poder voar nas costas de Falkor ou em bater um papo com o Come-Pedra (História sem Fim); ou, quem sabe, cavalgar para outra dimensão como uma Princesa montada em um Cavalo de Fogo.


Nasci nos anos 80. No mesmo ano, estreou na televisão brasileira a série de animação infantil Caverna do Dragão que, é claro, fui conhecer anos mais tarde. A série conta a história de seis crianças que tentam voltar ao seu mundo após serem levadas para um universo fantástico em um passeio de montanha russa. Se você conhece o desenho, sabe que a história de Hank, Eric, Diana, Sheila, Presto e Bobby é comum e presente em várias obras infantis: uma criança, ou um grupo delas, que em alguma brincadeira é levada a um mundo desconhecido, cheio de magia e desafios inimagináveis. A magia, por sua vez, envolve as crianças a ponto de permitir que transponham barreiras impossíveis para meros mortais como nós.


Mas todos nós crescemos um dia. E, quando somos adultos, as fantasias tomam outro lugar. Os anseios são outros. Não pensamos mais em voar nas costas de um dragão; queremos pegar um avião e conhecer outro continente. Não nos atreveríamos a avançar em um guarda-roupa que nos levasse para um mundo totalmente inexplorado; é muito arriscado! Queremos o concreto, o mensurável, o conhecido. Buscamos tantas certezas e realizações, que pouco espaço sobra para sonhos de fantasia e magia. Brincar é visto como uma atividade pouco importante, complementar, improdutiva. Mas, se admitimos a importância de jogos e atividades lúdicas para crianças em sua fase de "construção", quando essa fase termina? Quando é necessário parar se, na verdade, essa tal construção nunca acaba?


O RPG mudou meu jeito de ver o jogo. Mudou meu jeito de olhar para a fantasia. Me aproximou dos anseios mágicos da imaginação de uma criança e alimentou minha mente adulta. Eu nunca poderia imaginar que Caverna do Dragão era, na verdade, a representação de um jogo onde eu poderia interpretar qualquer uma daquelas 6 crianças. Mais ainda, eu poderia ser o próprio Mestre dos Magos. Nunca pude prever que, no auge dos meus 30 anos, eu me alegraria em poder ser não só um personagem de Dungeons & Dragons (nome original da série), mas também de Cavalo de Fogo e até de História sem Fim. Eu poderia até ser o próprio Falkor!


Se você tivesse a oportunidade de encontrar aquela criança que se divertia mergulhada em tantas histórias encantadas - se contasse a ela que tem a chance de continuar a viver todas essas fantasias, como acha que ela reagiria? Brincar com gnomos e fadas não é privilégio da infância. Fingir ser uma Fada da Floresta ou uma Anã Guerreira não é um tempo perdido, esquecido nas memórias de criança. Jogos como RPG alimentam a mente, nutrem a criatividade, melhoram relações em grupo, estimulam a leitura, exercitam a cooperação, desbloqueiam a timidez e aumentam nosso olhar para histórias reais ou fictícias. E as várias horas “gastas” em uma mesa? Não parecem nada improdutivas.


Interpretar um personagem fictício pode ser muito mais do que uma simples abstração da realidade. Existe um processo dentro de você que te faz escolher esta ou aquela raça, ou profissão, ou característica de certa personagem. Em uma mesa de RPG, conseguimos “utilizar nossos sentimentos, anseios e medos mascarados e refleti-los na aventura”, além de compartilhar e enriquecer nossas experiências pessoais.


Jogar RPG é um encontro divertido entre amigos vivendo em um mundo imaginário por horas. É unir-se a pessoas dos 4 cantos deste país e escolhê-las para serem companheiras de desafios nos quais somente a cooperação é capaz de levar à vitória. Jogar RPG é entender que a magia não acaba com a infância e que essa fase de construção, onde o lúdico é tão necessário, só tem fim quando a mente para de funcionar. Enquanto isso, podemos alimentá-la com fantasias e experiências que enriquecem também a alma, de uma maneira que só uma imaginação sem fronteiras é capaz de provocar.


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